A afirmação é da pós-doutora em Política de Energia Renovável no Technion – Israel, e doutora em Inovação Tecnológica pela TU DELFT – Holanda, Danielle Denes, que conversou com a SempreMais Comunicação sobre o planejamento de sustentabilidade nas empresas e a importância da comunicação neste processo. “Quando a empresa não tem uma cultura de comunicação interna e eu começo meu trabalho sem o engajamento e entendimento de todos, acaba virando apenas um case para ser trabalhado pelo marketing e não verdadeiramente incorporado e vivenciado pela empresa”, inicia Danielle.
O passo antes da elaboração de um relatório de ESG começa por um planejamento de sustentabilidade. Vários processos são mapeados, a partir da matriz de materialidade. “É preciso tangibilizar, trazer evidências e comprovar o real alcance das métricas, se não, a empresa cairá no famoso greenwashing, aquilo que eu falo que faço, não é necessariamente o que eu consiga fazer”, destaca Denes.
A matriz de materialidade, elaborada em visão 360º, é construída a muitas mãos, com todos os agentes interessados elencando as prioridades. “A realidade é que não dá para priorizar os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Temos que começar pelo o que a empresa já faz, o que está disposta a fazer e o que realmente consegue fazer. Porque os relatórios de sustentabilidade são lindos, mas o que, de fato, a empresa faz? E aqui, mais uma vez, entra a importância da comunicação! Esse processo de contar com o apoio de diversas áreas da empresa não funciona bem quando a comunicação entre os setores já não flui de maneira positiva. O trabalho de ESG não é foto é filme. É um processo de longo prazo, de multiatores e multinível, e tudo o que o envolve pessoas e propósito, envolve comunicação”.
Danielle acrescenta a essencialidade do suporte da comunicação interna também para o processo pós o relatório ESG ser emitido. “Primeiro as pessoas precisam ir entendendo do que se trata, depois, o porquê de elas estarem colaborando com isso e, ao final, os treinamentos e conscientização para a aplicabilidade do que foi acordado e, consequentemente, posterior atingimento das metas”, elenca a doutora.
Questionada sobre o papel primordial da liderança neste processo de comunicação para o desenvolvimento de um planejamento sustentável na empresa, Danielle foi taxativa. “Eu já estive no papel de comunicação dentro de algumas empresas, onde existiu esse movimento para a o desenvolvimento do planejamento e, infelizmente, por um não engajamento da liderança para que a comunicação abraçasse e fizesse o seu papel de preparar o espaço para o acontecimento, o processo não saiu a contento”.
Por fim, Danielle mais uma vez cita a comunicação, mas desta vez para um alerta do que não deve ser feito. “O ESG é um processo muito maior, que acaba girando em torno de riscos e impactos. Ele é fator crucial para o negócio, mas ainda tem empresas que enxergam somente o relatório com viés de publicidade, de colocar no feed da empresa de que ela é sustentável quando, na verdade, a demanda por uma empresa que vive um planejamento de sustentabilidade já está em toda a cadeia produtiva e, num futuro logo ali, aquela que for ESG só na mídia-social, deixará de ser escolhida como fornecedora em concorrências de diversos negócios”.