O que mudou no perfil da liderança nos últimos 10 anos

Temos buscado ouvir líderes reconhecidos e respeitados no mercado sobre diversos temas relacionados à liderança, afinal, nos processos de comunicação das empresas eles (elas) são a peça fundamental. Neste mês, fomos brindados com a entrevista sobre “a mudança no perfil da liderança nos últimos 10 anos”, concedida por um líder reconhecido por seus trabalhos nas áreas de Recursos Humanos, Relações Institucionais, Educação e Investimento Social Corporativo, José Antônio Fares.

SempreMais – O que mudou no perfil da liderança nos últimos 10 anos?
Fares – A sociedade mudou substancialmente nesses últimos anos, o comportamento das pessoas, as expectativas, características de personalidade, relações sociais e familiares. Então, naturalmente, o microcosmo que são as indústrias e empresas, têm um reflexo direto. Essa nova liderança tem que ter hoje um perfil para lidar com questões muito mais sensíveis. Do ponto de vista relacional e comportamental, a pessoa no papel de líder hoje tem que se desenvolver muito na sua habilidade humana, na sua flexibilidade e na sua adaptabilidade. Tem que ter uma leitura mais profunda e mais empática dos seus colaboradores, ser mais colaborativa e mais servidora no sentido de enaltecer os propósitos, os valores, e fortalecer o desenvolvimento e o aprendizado contínuo da sua equipe. Um líder hoje, mais do que nunca, precisa ter o foco em pessoas, na maneira como ele se aproxima delas, como se relaciona com elas, como elas o percebem, e se elas o percebem como um líder servidor, como um líder colaborativo, que respeita as diferenças e respeita a diversidade. Certamente haverá aí uma grande possibilidade de uma relação sinérgica e muito mais produtiva.

SempreMais – O que ganhamos e o que perdemos?
Fares – Esse maior engajamento do líder com o time trouxe muito mais satisfação, agilidade, inovação e retenção de talentos. Mas é preciso deixar claro que os ganhos de todo esse processo de humanização, proximidade, empatia e sinergia têm uma relação direta com o grau de maturidade da equipe. Se este grau for baixo, o resultado se perderá e não serão exatamente ganhos. O propósito de liderança transformadora está altamente atrelado ao grau de maturidade da equipe. Já as perdas, se podemos chamar assim, estão relacionadas a uma sobrecarga emocional maior ao termos que se preocupar mais com as pessoas. Novamente voltamos à questão da maturidade do time, uma maior aproximação pode confundir os limites que são necessários em qualquer processo corporativo.

SempreMais – 0s conflitos de um líder atual são diferentes dos de 10 anos atrás?
Fares -Sem dúvida. Existem alguns livros sobre poder que diferenciam os diversos tipos de poder e, há dez anos, ainda existia o poder da posição. O líder era reconhecido pela posição que ele ocupava e, como tal, exercia sua autoridade. Ao exercer a autoridade, ele provavelmente criava um estilo de liderança mais diretivo, com menos diálogo, com menos flexibilidade, porque ele queria resolver os problemas, mas não queria dar muito espaço para conversa. Hoje, dez anos depois, o poder pessoal é o que se sobressai em relação ao poder da posição. Hoje, o líder que é pleno, que é reconhecido, é aquele que tem força no seu poder pessoal, capacidade de convencer, de argumentar, de viver as diferenças, de respeitar a opinião do outro, mas também de fazer prevalecer aquelas ideias que ele tem porque, afinal de contas, ele é o líder. Essa capacidade de convencimento também é uma competência importante que o líder deve ter, mas não impondo, e sim, negociando, conversando, explicando, tentando convencê-los a respeito.

SempreMais – O que a solidão da liderança tem a ver com a liberdade de se expressar nos dias atuais?
Fares – Com receio de ser mal interpretado por alguma palavra ou frase mal colocada, e que possa colocá-lo em risco ao trazer múltiplas interpretações, o líder tornou-se ainda mais solitário. É um movimento meio inevitável. E isso tende a se acentuar, porque cada vez mais você está exposto. Não temos a menor ideia de onde isso vai parar, então, até por ser mais precavido, acho mais assertivo ficar mais contido na sua posição de líder e só ter as boas práticas de liderança.

SempreMais – Mais existem orientações para um líder se expressar sem medo?
Fares – O líder que não é claro, que não é assertivo, deixa a equipe insegura. O líder que se comunica parcialmente, perde a identidade com a base. Então, a liderança sem medo, é uma liderança que tem que se manifestar de um modo claro, assertivo, transparente, passando confiança, passando segurança dos dados, dos indicadores, daquilo que ele acredita, dando espaço para o diálogo, dando espaço para ouvir as pessoas. Falar sem medo é falar a verdade. Muitas vezes a notícia não é boa, mas ele está falando a verdade, está se posicionando, está pondo a cara pra bater. Dessa forma, certamente, irá ganhar o respeito da equipe.

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