Dia do Documentário Brasileiro

Deisiely Weiber – Time SempreMais

Prepare a pipoca e junte a família para comemorar este dia prestigiando incríveis documentários nacionais!

Mas afinal, o que é um documentário?

Gênero do cinema, o documentário é um produto audiovisual que reproduz,representa, ou ainda, exibe um recorte da realidade.

O formato ou conteúdo que compõe um documentário é livre, de acordo com as preferências e perspectivas de quem o produz e tem em suas mãos e mente, o poder de criá-lo e dar forma para legitimar diferentes protagonistas de histórias da vida real.

Um documentário se inicia em uma ideia, se constrói com pesquisas, ganha forma em um roteiro e se transforma em obra quando assistido pelo público.

A data de hoje é em homenagem ao cineasta e documentarista Olney São Paulo que nasceu neste dia em 1936, e teve grande representatividade no cinema nacional.  Esta data também contribui para refletir sobre a história de Olney, que foi preso e torturado durante a ditadura militar nos anos de 1960 por uma infeliz coincidência que associou seu nome e sua obra a um sequestro de avião realizado por um grupo revolucionário que lutava contra a ditadura, o MR-8.

Fazer cinema no Brasil não é fácil, pois a cultura ainda não recebe grande prestígio ou incentivo. Mas lembrar o dia de hoje pode despertar interesse para quem nunca assistiu a um documentário nacional.

Nosso país conta com grandes representantes do gênero documentário que contribuíram com suas obras. Se você está instigado e deseja conhecer um deles, Eduardo Coutinho é um nome indicado e importante para quem admira este gênero do cinema.

E para conversar com quem entende do assunto, entrevistamos a professora de jornalismo nas matérias de audiovisual da Universidade Positivo, Sandra Nodari. Sandra já contribuiu para documentários fazendo a parte de pesquisa na produção. Acompanhe!

Qual a importância do documentário para o mundo?

Sandra: “O documentário é um gênero que faz asserções à realidade, quer dizer, discute sob o ponto de vista do Diretor, assuntos relacionados ao mundo e, por isso, tem uma relevância imensa nas reflexões da humanidade. Como há diversas categorias de documentários é possível refletir sobre assuntos atuais ou antigos de acordo com os realizadores que cada um mais gostar. Por exemplo, os documentários exibidos nas emissoras de TV, normalmente são aqueles de cunho mais educativo, expositivos, que tentam ensinar algo às pessoas. Há outros que trazem reflexões sobre as desigualdades sociais, por isso, é um espaço de discussão de quem somos e o que estamos fazendo com o mundo.”

Sobre a experiência em produzir ou fazer parte da produção de um documentário, e identificar-se com o processo de pesquisa, Sandra responde:

Eu sou muito grata por ter sido apresentada à produção de documentário, no início dos anos 2000, pela diretora Joana Nin que me convidou para o primeiro projeto dela. E minha função desde o início foi na pesquisa de personagens,. Aos poucos fui descobrindo que pesquisar personagens é uma forma de roteirizar os documentários, uma vez que, ao encontrar as pessoas e descobrir suas histórias o projeto vai ganhando forma. Ao fim da pesquisa, o desenho do roteiro vai se concretizando. O documentário nos leva a lugares que não iríamos se não fosse pela produção audiovisual, entramos em lugares, vivemos situações, conhecemos pessoas e temos experiências que só os projetos nos permitem ter.”

É importante ressaltar que um documentário não é o mesmo que um filme. Sandra explica:

“Um filme de ficção é indexado como tal pelo Diretor e não tem nenhum compromisso ético com o tema tratado, nem com os personagens. Já um documentário precisa seguir a ética deste gênero, que é algo fundamental para classificar um audiovisual como filme de não-ficção. E esta ética é definida pelo Diretor, apresentada por ele durante o filme. O compromisso ético se dá também com os personagens, a negociação feita com cada pessoa. A partir das autorizações de uso de imagem e voz elas têm de ser cumpridas, independentemente do que aconteça. Como o documentário trabalha com pessoas, a vida dessas pessoas, suas histórias devem ser respeitadas.”

Durante a produção de um documentário, diversos desafios e dificuldades podem surgir e, trazendo alguns exemplos, Sandra complementa:

“Há muitos desafios, antes havia mais ainda, mas hoje com a facilidade de acesso à tecnologia ficou um pouco mais fácil de tirar as ideias da cabeça, transformá-las em pesquisa, em roteiros, em produções e dar vida aos documentários. As dificuldades são primeiramente financeiras e depois depende de cada projeto. Há autorizações necessárias para filmar pessoas, entrar e filmar lugares, contar histórias, e assim por diante. E depois de tudo, ainda há a dificuldade de escolher a narrativa, a linguagem, e, finalmente, a exibição. Ter pessoas que queiram assistir ao documentário.”

Sandra fez parte de um projeto documentário chamado Proibido Nascer no Paraíso que conta história de mães que são obrigadas a saírem da Ilha Fernando de Noronha quando chegam na 26º semana de gravidez, um retrato obscuro em meio a tanta beleza que compõe a ilha. Sandra conta os detalhes desta experiência:

“Foi uma das boas experiências que o documentário me deu. Conheci a ilha de Fernando de Noronha fiquei lá por 20 dias e fui muito bem recebida pelas mulheres moradoras daquele lugar paradisíaco. Foi difícil, no início, porque não conhecia nenhuma pessoa da ilha e precisava descobrir quem eram as mulheres que estavam grávidas e entender as histórias delas. Não tinha ninguém pra pedir indicação, então, o negócio foi sentar no banquinho externo do hospital e esperar uma gestante aparecer para me apresentar e contar do projeto. Conforme elas foram tendo confiança em mim, conheci várias outras mulheres e a pesquisa foi mais tranquila. Só pude aproveitar, realmente, o paraíso, depois de uma semana focada na pesquisa. Me lembro que num sábado à tarde, uma das personagens, indignada que não tínhamos ido passear ainda, nos levou (eu e Joana Nin) até a praias do Sancho, uma das mais belas do mundo. Me lembro que minha cara era só sorriso. Foi sensacional. A história das grávidas é muito triste, pude conhecer os dois lados da ilha, a dos turistas e a dos moradores, é luxo de um lado e pobreza do outro. As grávidas são obrigadas a deixar a ilha quanto chegam a 26 semanas de gestação, isso é desumano. São separadas das famílias, obrigadas a entrar em licença maternidade, em um momento de muita fragilidade.”

Com uma linguagem especial e visão da realidade, o documentário vai além de apenas narrar um fato ou um cotidiano. Um documentário dá voz para aqueles que muitas vezes não são ouvidos nem dentro de suas próprias casas, e tem potencial de fazer estas vozes ecoarem mundo a fora. Portanto, aproveite este dia para prestigiar este gênero cinematográfico brasileiro, há diversas plataformas de streaming que disponibilizam alguns deles.

Parabéns a todos documentaristas brasileiros, e todos aqueles que contribuem ou contribuíram para este gênero. Viva a produção audiovisual, viva a comunicação através das lentes!